Neste domingo, dia 23 de abril, vivenciamos mais um dia de comemorações, orações, vênias, festas, entre outros, como demonstração da grande devoção de nosso povo por São Jorge.
Considerado um dos santos de maior veneração, São Jorge é cultuado pela Igreja Católica Romana, pela Igreja Ortodoxia e Anglicana. E não bastasse toda essa devoção, ele “também é venerado em diversos cultos das religiões afro-brasileiras, onde é sincretizado na forma de Ogum”.
Buscando entender um pouco dessa ilustre Entidade, no caso do Santo Católico, foi Jorge um capitão do exército Romano, que nasceu na antiga Capadócia, hoje região da República da Turquia, mas foi criado na Palestina. Sua dedicação e habilidade com as armas o levou ao reconhecimento do Imperador que o conferiu o título de Conde da Capadócia. Jorge assumindo a devoção cristã, distribuiu seus bens aos pobres e enfrentou a suprema corte romana, defendendo os cristãos, sendo contrário a decisão do imperador de disseminá-los e ainda sugerindo que todos os romanos se convertessem ao cristianismo. O imperador Deocleciano mandou torturá-lo, na tentativa de fazê-lo renegar o Cristo, mas como não obteve sucesso, mantendo-se Jorge fiel a sua crença, mandou executá-lo em 23 de abril de 303. Seus restos mortais foram posteriormente transferidos para Lida, em Israel, tendo o imperador Constantino, erguido um “suntuoso oratório” em sua homenagem, espalhando sua veneração pelo Oriente. A data de 03 de novembro, que marcou a reconstrução dessa Igreja na Lida, onde estão suas relíquias, é outro dia de comemoração a São Jorge.
São Jorge é padroeiro em diversas partes do mundo, na Inglaterra (onde existe a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge), Portugal, Geórgia, Catalunha, Lituânia, Moscou (onde sua figura está estampada em brasão oficial), como muitas outras cidades. No Brasil é padroeiro da Cavalaria do Exército Brasileiro, dos escoteiros, entre outros e tem uma legião de devotos na cidade do Rio de Janeiro.
Se considerarmos a mitologia grega, São Jorge tem similaridade com Marte, considerado Deus da Guerra e na Mitologia Nórdica, é sincretizado com Sigurd, o caçador de dragões.
Nos cultos afro-brasileiros ele foi sincretizado com Ogum, por sua característica de guerreiro, de homem das armas, destemido e corajoso. Ogum na lenda Iorubá, era filho de Odudua (ancestral das diversas nações Iorubás), e não se apegava as obrigações de reinado de seu pai. Seu forte espírito de conquistador, de homem da guerra, não condizia com a postura de um senhor em seu trono, mas sim de um executor e defensor das ordens e da lei. Sendo Xangô a justiça, Ogum a Lei, o que executa a justiça ditada por Xangô. Ogum é movimento, sua essência orixaica é o ar e seu símbolo é a espada e a lança, tendo o ferro como elemento e o rubi, ou granada como pedra; como cores, o vermelho e azul.
Segundo a pesquisadora Monique Augras, na África e o livro Os Orixás (Editora Três):
Ogum é o deus do ferro, a divindade que brande a espada e forja o ferro, transformando-o no instrumento de luta. Assim seu poder vai-se expandindo para além da luta, sendo o padroeiro de todos os que manejam ferramentas: ferreiros, barbeiros, tatuadores, e, hoje em dia, mecânicos, motoristas de caminhões e maquinistas de trem. É, por extensão o Orixá que cuida dos conhecimentos práticos, sendo o patrono da tecnologia. Do conhecimento da guerra para o da prática: tal conexão continua válida para nós, pois também na sociedade ocidental a maior parte das inovações tecnológicas vem justamente das pesquisas armamentistas, sendo posteriormente incorporada à produção de objetos de consumo civil, o que é particularmente notável na industria automobilística, de computação e da aviação.
Ogum é assim, símbolo do desenvolvimento, da expansão da produção, do trabalho e da força criadora. A ação de Ogum vai além da abertura das picadas na mata e do enfrentamento dos exércitos, ele é símbolo da promoção do desenvolvimento industrial através dos transportes, sendo a estrada de ferro uma de suas moradas. São sete qualidades de Ogum, entre elas Sete Ondas, Beira Mar, Matinada, Rompe Mato, Megê, Yara, Xoroquê.
Não é difícil entender o porque da popularidade de Ogum e/ou São Jorge, sendo ele um guerreiro, uma divindade da guerra, nossa humanidade tem muito mais identidade com a guerra do que com a paz. Nossas Nações se constituíram a partir de conquistas, de guerras e os avanços tecnológicos que alavancaram nossas indústrias foram decorrentes das grandes guerras. Também entre os africanos, nas condições que vivenciaram como escravos, precisavam do ícone de um grande guerreiro, defensor das suas penúrias.
Na organização do trabalho nos Planos outros, na hierarquia das equipes espirituais, Ogum é o que ordena Exu, ou seja, é o que vem a frente no comando das legiões e guardas de sentinelas e guardiões. Exu trabalha sob a ordenança de Ogum-iê e seus Cavaleiros. São como exércitos, com seus componentes e suas patentes, cada um pelo seu campo e ponto de força, nas eminências das essências orixaicas. Entre as sete essências de Orixás (cristal, mineral, vegetal, ígnea, eólia, telúrica e aquática), Ogum manipula como sua essência natural o “ar”, que pode vir misturado a outra essência, desde que manipulado a partir da essência ar. Como exemplo pra entendermos melhor, se a essência de Xangô é o fogo, Ogum não manipula diretamente o fogo, mas agindo sob a essência do fogo, manipula o ar quente e assim por diante.
Considerando o arquétipo Ogum, a personalidade do santo guerreiro nos remete a qualidades como a coragem muito grande, a franqueza absoluta, o interesse pelo novo, pelo movimento, o gosto por viagens e a aversão a rotina. Na comparação com nossa organização social podemos dizer que Xangô é o juiz, Ogum o delegado e Exu, seus comandados, os soldados das suas guardas.
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Fonte:
Wikipédia, São Jorge. Disponível em: . Último acesso em: 23 abril 2012.
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. Editora Corrupio: 2002.
LOMBARDI, Carlos. Os Orixás. Editora Três: São Paulo, s.d. 3ª Ed.
AUGRAS, Monique. O Duplo e a Metamorfose - A Identidade Mística em Comunidade Nagô. Petrópolis: Vozes. 1983.
SARACENI, Rubens [psicografado por]. Código de umbanda/Espíritos diversos. 4. Ed. São Paulo: Madras, 2010.
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